Dados do Trabalho

Título

RELATO DE CASO - CRISE CONVULSIVA APÓS ANESTESIA PERIDURAL EM PACIENTE PORTADOR DE SÍNDROME EPILÉPTICA

Descrição

INTRODUÇÃO: O bloqueio do neuroeixo é primordial no manejo da dor operatória. Embora rara, a Toxicidade Sistêmica por Anestésicos Locais (LAST) em bloqueios de neuroeixo pode provocar graves complicações neurológicas e cardiocirculatórias. Tais riscos levam a um crescente interesse no estudo dessas adversidades. RELATO: O presente trabalho apresenta o caso de um paciente ASA II, do sexo masculino, 37 anos, com diagnóstico de Carcinoma Espinocelular de Esofago, tabagista, etilista, portador de Epilepsia, desnutrido (IMC 17.85 kg/m²), com hiponatremia (Na 128 meq/l), no qual foi submetido à gastrostomia convencional devido à impossibilidade de tratamento curativo. Como técnica anestésica optou-se por peridural associada à sedação. O paciente foi sedado com 0.1mcg/kg de Fentanil e 0.06mg/kg de Midazolam, e realizada peridural ao nível de T11-T12 com agulha Tuohy 16G, confirmada pela técnica de perda de resistência, feito dose teste com 3 ml de Lidocaína 2% com adrenalina. Após o período de 5 minutos da dose teste, foi administrada solução anestésica contendo 3mg/kg de Lidocaína a 2% com adrenalina, 1mg/kg de Ropivacaína 1% e morfina a 0.04mg/kg diluído em 4 ml de água bidestilada. Minutos após o paciente evoluiu com crise convulsiva tônico-clônica generalizada, com duração de 60 segundos, sendo abortada após a administração de 50mg de Propofol. Recuperado do estado pós-ictal, porém mantendo o bloqueio do neuroeixo a nível de dermátomo de T4, deu-se seguimento ao ato cirúrgico, que ocorreu sem intercorrências. Paciente foi encaminhado à UTI para monitorização clínica, tendo recebido alta hospitalar 3 dias depois. DISCUSSÃO: Episódios de crise convulsiva e utilização de anestésicos locais são fortemente associados pela literatura. Os anestésicos locais são bases fracas que se ligam aos canais de sódio voltagem-dependentes, inibindo, de modo transitório e reversível, a condução dos impulsos neurais. Sua farmacodinâmica se correlaciona com sua toxicidade, uma vez que a sua falta de especificidade ao se ligar aos canais de sódio faz com que outras células também possam ser inativadas sob o uso do fármaco em altas concentrações. No entanto, condições relacionadas ao paciente, tais como epilepsia, desnutrição, etilismo e a hiponatremia crônica, extremos de idade, doenças do sistema nervoso central, hepatopatias, hipoalbuminemia, insuficiência cardíaca e renal podem influenciar essa relação. Apesar dos fatores supracitados, as principais causas de toxicidade por essas substâncias dizem respeito ao tipo de anestésico utilizado, a dose, associada à absorção. O surgimento de complicações na peridural, na maioria das vezes, se estabelece durante a execução do bloqueio de maneira inadvertida. Sendo que até o presente momento nenhuma técnica apresentou boa especificidade para evitar tal complicação. A anestesia peridural possui um papel primordial na redução de morbimortalidade nos procedimentos cirúrgicos. Porém, tal técnica não é isenta de complicações.

Referência 1

Radkowski P, Fadrowska-Szleper M, Katarzyna Podhorodecka, Marcin Mieszkowski. Neurological Complications of Regional Anesthesia: An Updated Review with Clinical Guidelines. Medical Science Monitor [Internet]. 2023 Aug 3;29. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10503399/

Referência 2

Gitman M, Fettiplace MR, Weinberg GL, Neal JM, Barrington MJ. Local Anesthetic Systemic Toxicity. Plastic and Reconstructive Surgery. 2019 Sep;144(3):783–95. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31461049/

Palavras Chave

Anestesia Peridural; anestésico local; CONVULSÃO