Dados do Trabalho


Título

Anestesia para gestante portadora de Síndrome de Marfan com dissecção aguda de aorta tipo A de Stanford

Descrição

Introdução

A dissecção aguda de aorta (DAA) é um evento grave e raro durante a gestação, predominando no terceiro trimestre, associada a doenças do colágeno (Síndromes de Marfan e Ehlers-Danlos) e malformações cardíacas (coarctação e valva aórtica bivalvular). A anestesia é um desafio, devendo-se priorizar o binômio mãe-feto.

Relato de Caso

Paciente feminino, 34 anos, G2P1A0, 35 semanas gestação gemelar dicoriônica e diaminiótica, portadora de Síndrome de Marfan e hipertensão gestacional, em uso de Metildopa 150mg 3x/dia. Deu entrada no pronto socorro do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes via SAMU queixando-se de precordialgia de início súbito e náuseas, diagnosticada com DAA tipo A de Stanford.

Diante da viabilidade fetal, indicou-se interrupção da gestação por cesariana seguida por cirurgia corretiva da dissecção. Monitoramento com cardioscópio, oxímetro de pulso, pressão arterial invasiva, índice bispectral, capnografia e termômetro esofagiano. Realizada indução de anestesia geral com sufentanil 5mcg, cetamina 20mg, remifentanil alvo controlado para 4, propofol 70mg e rocurônio 100mg.

Gemelar I nasceu hipotônico, bradicárdico e em apneia, índices de Apgar 4/8/9. Procedida intubação orotraqueal, com melhora de tônus e recuperação da frequência cardíaca. O gemelar II nasceu hipotônico e cianótico, Apgar 6/9, melhora após dois ciclos de ventilação com pressão positiva. Ambos foram encaminhados à UTI Neonatal.

Após o parto, administrado sufentanil 50mcg, metadona 10mg, metergin 0,2mg, ocitocina 10 UI IV e 10 UI IM. Manutenção anestésica com sevoflurano 2%, remifentanil e esmolol em BIC. Não houve intercorrências durante o procedimento, a paciente foi encaminhada à UTI.

Discussão

A DAA durante a gravidez é uma ameaça à vida da mãe e do concepto, e a decisão sobre o manejo clínico ou a necessidade de intervenção cirúrgica deve considerar o risco de rotura, o tipo de dissecção e a viabilidade fetal.

Recomenda-se que nas gestações com menos de 28 semanas, o reparo cirúrgico da aorta seja realizado com o feto intraútero. Após 32 semanas, a cesariana deve ser realizada juntamente com o reparo da aorta.

O manejo anestésico é desafiador, visto que, devido a escassez de casos na literatura, não existem diretrizes específicas. Entretanto, sabe-se que o controle da pressão arterial, assim como o controle hemodinâmico adequado, são objetivos importantes na técnica anestésica escolhida.

A raquianestesia em dose única não é recomendada devido ao risco de simpatectomia rápida e diminuição súbita da resistência vascular sistêmica. Na anestesia geral deve-se priorizar o uso de anestésicos de rápido metabolismo antes do nascimento e considerar o sangramento uterino decorrente de heparinização plena durante a circulação extracorporea.

Diante do exposto, para o sucesso do ato anestésico-cirúrgico, o anestesiologista deve-se basear em conhecimentos atualizados, associados a monitorização adequada e constante avaliação do quadro clínico materno-fetal.

Referência 1

AVILA WS, DIAS R, YAMADA RT et al. Dissecção aguda da aorta durante a gravidez. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2006, v. 87, n. 4. pp e112-e115.

Referência 2

KAYHAN GE, GULHAS N, SAHIN T et al. Anesthesia for Caesarean Delivery in a Pregnant with Acute Type B Aortic Dissection. Turk J Anesthesiol Reanim. 2013, v 41. pp 178-181.

Palavras Chave

Gestante; Dissecção de aorta;

Área

Anestesia Obstétrica

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET H.UNIV.CASSIANO ANTÔNIO MORAES-UFES - Espírito Santo - Brasil

Autores

VITÓRIA MARTINS MACHADO, SIGMAR AUREA CABRAL PEREIRA, ESMAYLHOM MENEZES DE SOUZA OLIVEIRA, LUCAS TONINI VIEIRA, LUCAS VENTORIM DE TASSIS, NATALIA PINHEIRO BISI